Por Augusto Vasconcelos
Os recentes episódios dos ataques criminosos realizados em São Paulo, trazem à tona alguns elementos para nossa reflexão coletiva. Nos momentos de grandes acontecimentos criminosos que nos trazem repercussão internacional, a tendência majoritária na grande imprensa é a de utilizar a insegurança social para apresentar como alternativas para o crime o recrudescimento da legislação penal. Medidas como pena de morte, redução da maioridade penal, "tolerância zero" são apresentadas como solução.
Em nenhuma proposta apresentada nos grandes jornais está prevista um maior investimento em educação, saúde, esporte e políticas sociais. Ao que parece, teóricos e jornalistas conservadores gostam apenas de formular propostas imediatistas, como a de ampliar o investimento em segurança. A pergunta é: será que o que mais precisamos é investir em segurança ou educação? Não quero negar a importância de mais investimentos em segurança pública, mas ressaltar que esta não deve ser a prioridade política, inclusive para tornar nossa sociedade mais segura.
Para parte da imprensa não interessa discutir a verdadeira causa do forte esquema do crime organizado. Não se discute a relação da ampliação do exército de criminosos com as crianças que passam fome, com os pais que não tem emprego, com os jovens sem escola de qualidade. É óbvio que a pobreza não necessariamente provoca o crime, mas a desigualdade entre a opulência das grandes mansões e as favelas da periferia de São Paulo, sem dúvida alguma, aguçam a perspectiva de uma escalada criminosa. O terreno é fértil para os bandidos, pois, historicamente, o Estado esteve ausente da vida dessas pessoas, inclusive porque preocupou-se ao longo da história em assegurar meios de ampliar os lucros cada vez maiores da mesma elite que agora se apavora com os acontecimentos. Como o Estado esteve ausente, a rede do tráfico ocupou o espaço, preenchendo-o com uma série de relações de assistência para essas comunidades, inclusive lhes provendo, paradoxalmente, segurança.
Temos que aprofundar a discussão saindo da superfície dos problemas, entendendo o que está por trás. A política de tolerância zero implementada em Nova York e que supostamente teria reduzido a criminalidade, na verdade foi implementada ao mesmo tempo da ampliação dos investimentos em políticas sociais naquela cidade. Ao mesmo tempo, antes mesmo da implementação da "tolerância zero" já havia uma redução da escalada criminosa naquela cidade. A despeito da implementação de um sistema penal altamente recrudescedor, os EUA possuem a maior população carcerária do planeta e, nem de longe, está entre os países mais seguros do mundo.
Será que a falta de interesse dos poderosos em promover um grande debate nacional para discutir as razões da falta de segurança é porque notícias como a de São Paulo dão mais audiência, vendem mais jornais? Até quando vamos continuar vendo na televisão as propostas de Datena, Varela e companhia ecoarem em nossos lares, sem a mínima possibilidade do debate. Os episódios de São Paulo devem servir para uma reflexão mais profunda da sociedade brasileira. A principal arma que temos para evitar o recrutamento de nossos jovens para as organizações criminosas é a educação. Lutemos por ela!
junho 06, 2006
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